Não estava no seu melhor humor naquela noite. Provavelmente em função disso Dite havia insistido tanto para que ele colocasse a cara na rua.
Outros amigos estariam no bar. Milo conhecia o lugar. Comida japonesa e karaokê. Um labirinto de corredores e portinholas que desaguavam em um lounge discreto, pegação e com sorte terminar a noite em algum motel. Conhecia suas qualidades.
Não seria difícil conseguir companhia, quanto a se interessar por alguém… Bom, isso há algum tempo não acontecia.
Quem sabe o amigo estivesse certo, já era a hora de superar e seguir em frente. Mas entrar com a bunda na equação de tomar o fora não era algo que esperava. Quem espera isso, afinal?
No entanto, depois de algum tempo, com a poeira baixa admitia que havia sido o melhor a se fazer. Manter um relacionamento com a distância de um oceano por pelo menos 2 anos não era mesmo uma opção.
Estava na portaria de seu prédio aguardando o carro de aplicativo. Havia feito a barba, se arrumado com precisão. Nesta noite não voltaria para casa no zero a zero. Alguns meses, já havia passado da hora de voltar a se divertir. Acabar com essa chatice que havia se transformado seu cotidiano. Por sua inteira responsabilidade. Não pretendia se fazer de vítima mais. A vida atropela quem não se mexe. Sabia bem.
Confirmou no telefone a chegada do carro. Saiu se despedindo do porteiro. Conferiu a placa, modelo e cor do veículo e disse boa noite ao motorista sem prestar muito atenção nele. Quando o homem respondeu sua voz grave e macia lhe chamou a atenção. Ergueu os olhos e encontrou a sua frente um figura de tirar o fôlego. Sentiu no mesmo instante um calor subindo para sua face. Realmente estava há tempo demais fora de ação.
A corrida começou com uma arrancada suave, mas que lembrou Milo de colocar o cinto de segurança. No banco do motorista o outro homem acertou sua postura, chamando a atenção de Milo quando falou:
— Nossa está todo cheiroso, vai encontrar com a gatinha?
— Moço, eu sou a gatinha. — Respondeu sem pestanejar.
O motorista abriu um pouco mais os olhos e Milo não conseguiu perceber exatamente o que se passava naquela face pelo espelho retrovisor. Não era sua intenção se expor, de qualquer forma não era dado também a se esconder.
Aparentemente não foi grande coisa para o outro, então manteve-se tranquilo. Tudo o que menos queria naquela noite era ter que lidar com algum preconceituoso de plantão.
Rindo disfarçadamente consigo mesmo digitou algo em seu celular e publicou.
Observou o caminho pela janela.
O homem dirigia de forma segura, tranquila e profissional. No próximo semáforo voltou a falar:
— Vai encontrar alguém especial, presumo…
— Não, apenas saindo da toca depois de um tempo para ver o que acontece… — Milo respondeu sem entender o motivo. — Insistência dos amigos…
A energia no interior do carro começou a ficar diferente. Encarou aqueles olhos que não conseguia ainda saber exatamente a cor e sorriu de leve. O caminho era vencido sem que eles voltassem a falar. Alguns minutos se passaram. Milo já pensava que talvez houvesse exagerado no tom quando escutou o motorista respirando fundo e conferindo no celular os seus dados do aplicativo.
— Então, Sr Milo… Isso quer dizer que você pode cancelar seus planos com estes amigos e conhecer uma pessoa nova, como eu por exemplo? O que acha de tomar um café comigo?
Milo ficou boquiaberto. Olhou em seu próprio celular a fotografia do motorista no aplicativo, algo que deveria ter feito desde o primeiro momento por questão de segurança.
Lá estava ele, jovem, bonito e bem sério na foto. Aiolia Íroas, o nome. Avaliação 4.9. Muitas estrelas, sem dúvida ele merece, pensou enquanto mordia seu lábio inferior.
— Ou estou abusando? — Questionou sem desviar sua atenção do caminho o motorista.
— Não, não está. Vamos até lá só para finalizar a corrida, estamos perto… Então, poderemos nos ver direito. E quem sabe tomar café…
Aiolia sorriu se segurando para nada dizer. Havia visto muito bem aquele espetáculo de homem quando ele se encaminhou para o carro. Seu tipo, exatamente a personificação de tudo que achava atraente. Num impulso jogou aquela cantada fraca. Quase não acreditava que havia funcionado.
Chegaram ao destino.
Ele encerrou a corrida e Milo sem dizer nada destravou o cinto, a porta e saiu do carro.
Por alguns segundos Aiolia sentiu um abandono imenso e já pensava em se chutar pela ousadia e pela rejeição. Segurou o volante com força.
Todavia, o passageiro apenas entrou novamente no carro, desta vez pela porta do carona, se ajeitando ao seu lado e dedicando um longo olhar avaliativo para sua figura. Pelo jeito não estava decepcionando.
— Gosta do que vê? — Perguntou aliviado tentando disfarçar o coração acelerado com palavras em tom divertido.
— Desligue seu aplicativo, ou vai querer que te acompanhe em mais corridas? — Disse Milo sentindo um intenso frio na barriga. O motorista era incrível, provavelmente tinham um porte parecido e a voz daquele homem estava acabando com sua razão — E sim, gosto muito do que estou vendo.
A resposta sincera agradou em cheio Aiolia que baixou os olhos passando a mão por seus cabelos curtos antes de dar por encerrado seu turno de trabalho, desconectando sua conta do aplicativo.
Era uma loucura, sem dúvidas. Milo estendeu a mão, encarando aquele homem.
— Sou Milo, mas você já sabe.
Ailoia aceitou o gesto sentindo o calor da pele do homem agora sentado ao seu lado.
Milo, por sua vez, mal conseguia acreditar em sua imensa sorte. Estavam realmente um encantado com o outro. Sem escapatória. Ele não costumava ser assim tão despojado, ao contrário, entretanto algo no passageiro simplesmente o enfeitiçou.
— Aiolia, mas você já sabe…
Neste momento o celular de Milo tocou, sem desviar os olhos do motorista ele atendeu. Falou e desligou sem dar chance de resposta a pessoa que telefonou.
— Dite, não me espere, acabo de conhecer meu futuro namorado. Te ligo amanhã!
FIM
Considerações Finais:
A capa desta fic foi feita por @LeChevalier assim como a capa do capítuloA arte retirada do perfil de Jin Ko no pixiv
Um print (de tweet) é o culpado por tudo.
Obrigada a quem ler! Até a próxima
Beijos.